Automobilistas mulheres que você deveria conhecer: Lella Lombardi
Conheça a história da primeira – e única – mulher que pontuou na Fórmula 1
A piloto italiana Lella Lombardi enfrentou inúmeros obstáculos para conseguir um lugar na Fórmula 1 e, até hoje, foi a única mulher que conseguiu pontuar nessa categoria. Conheça mais sobre essa trajetória inspiradora.
O início do sonho
O interesse pelo meio automotivo apareceu muito cedo na vida de Lombardi, ainda na infância, e, aos oito anos de idade, já tinha definido que seu sonho era ser piloto. Diferentemente de outros candidatos às pistas, a garota não veio de uma família rica – era filha de um açougueiro e uma dona de casa. Assim, não teria como seus parentes financiarem sua carreira no esporte.
De qualquer forma, esse obstáculo não a impediu. Seu primeiro emprego foi dirigindo uma van para a loja do pai. Determinada em alcançar suas metas, Lella iniciou no automobilismo com o cargo de mensageira de um piloto de rali, até que foi promovida a copiloto. Depois de insistir muito, ganhou um lugar atrás do volante e, nessa ocasião, foi a campeã de uma corrida.
A partir dessa vitória inusitada, a carreira de Maria Grazia (nome de certidão da piloto) deslanchou. No final dos anos 1960, ela consegue comprar um carro para disputar a Fórmula 875-Monza, onde conquista a sua terceira vitória. Continuou apresentando sucesso em Fórmulas Júnior do mercado interno; em 1970, terminou em terceiro lugar na Fórmula Ford Italiana, e no Campeonato Italiano de Fórmula 3, finalizou na décima posição, dirigindo um Jollys Club.
A participação na Fórmula 1
Antes de desembarcar direto na Fórmula 1, Lombardi alcança outra competição importante: a Fórmula 5000. Essa categoria contava com carros muito potentes e reunia grandes nomes do automobilismo internacional, muitos dos quais eram selecionados para a tão almejada F1.
Competindo com pilotos como Mario Andretti e James Hunt, Lella conquistou a quinta posição na F500 de 1974, precedente importante para exibir seu potencial nas pistas. Ainda nesse mesmo ano, ela consegue sua primeira oportunidade de pilotar um carro de Fórmula 1, com a Brabham, mas não teve êxito em se classificar para o GP de Silverstone.
Sem que isso atrapalhasse, a italiana recebeu a proposta de ser piloto titular da March para o campeonato de F1 de 1975, dirigindo um veículo com motor Ford V8. Aceitou e, então, formou uma trinca com os pilotos Vittorio Brambilla e Hans-Joachim Stuck. Vale ressaltar que, desde a participação de Maria Teresa de Filippis, nenhuma outra mulher havia conseguido um assento na competição.
Em sua segunda corrida do campeonato, em Barcelona, Lombardi entrou para a história. O circuito de Montjuïc consistia em um cenário perigoso, dado que os guard rails (defensas metálicas) e telas foram montados sem cuidado algum. Os pilotos, liderados pelo brasileiro Emerson Fittipaldi, ameaçaram não correr por causa das condições daquele GP.
As equipes, sob pressão, tentaram aparafusar as barreiras, mas não conseguiram e a corrida foi realizada daquela maneira. Consequentemente, aquele dia foi palco para muitos acidentes. O mais grave de todos envolveu o alemão Rolf Stommelen, o qual ficou gravemente ferido depois que a asa traseira de seu veículo voou sobre as telas. O resultado: quatro mortos e o encerramento da prova, depois de apenas 29 voltas.
Quando a corrida foi declarada finalizada, só restavam sete competidores na pista e Lella Lombardi era a sexta classificada entre eles. Os pontos foram divididos pela metade, pois as voltas não completaram 3/4 do total previsto, fazendo com que a italiana somasse 0,5 ponto. De qualquer forma, ela pontuou!
Naquela mesma temporada, a piloto ainda conquistou outro Top 10, finalizando em sétimo lugar no GP da Alemanha, mas, na época, essa classificação não dava pontos. No geral, Lella enfrentou dificuldades naturais de quem estreava no esporte, sem o apoio de uma equipe tão forte.
A saída da Fórmula 1
Em 1976, Lombardi chegou a participar da primeira corrida da temporada, ainda pela March. Logo depois, ela foi substituída por Ronnie Peterson, que havia deixado a Lotus.
Após ser removida da March, a piloto foi inscrita para três outras corridas daquele ano pela equipe RAM, com um carro Brabham alugado. Ao todo, a competidora italiana correu em 12 partidas da Fórmula 1 – número impressionante, considerando o quadro de oportunidades para uma mulher na época e, ainda, os grandes nomes do esporte que estavam presentes como seus adversários.
Aposentadoria
Depois da Fórmula 1, Lella passou a disputar algumas corridas de turismo, acumulando vitórias importantes. Em 1977, participou das 400 milhas de Daytona, ao lado de Jennette Gantry e Christine Beckers. Já em 1979, Lombardi foi a primeira mulher a vencer uma prova do Mundial de Endurance, com as 6 horas de Pergusa. Depois, ainda triunfou nas 6 horas de Vallelunga e disputou, por diversas vezes, as 24 horas de Le Mans.
Sua aposentadoria profissional das pistas chegou em 1988, o que a impulsionou a fundar sua própria equipe. A italiana faleceu quatro anos depois, de câncer, na cidade de Florença, local pelo qual era apaixonada. Em sua cidade natal, Frugarolo, inauguraram um busto em sua homenagem.
Quanto à sua contribuição para o esporte, por mais que não tenha sido um ponto inteiro, a competidora foi a primeira mulher a pontuar na Fórmula 1. Depois de quase 50 anos, nenhuma outra conseguiu entrar para o placar. Além disso, a piloto, que era lésbica, também foi um dos poucos competidores da F1 declaradamente parte da comunidade LGBT.
Sem dúvidas, o que Lella Lombardi conquistou na década de 1970, em meio a tantos obstáculos, é exemplo e inspiração para as gerações posteriores. É uma esperança para que um dia ainda apareçam outros nomes femininos para a história dessa competição.
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