O que os semicondutores representam para a indústria automotiva?
Falta do dispositivo vem impactando a produção das grandes montadoras no Brasil e no mundo
De 2020 para cá, em virtude da pandemia, o segmento automotivo global foi obrigado a lidar com uma questão gigantesca, que afetou a área comercial de todos os fabricantes de veículos mundo afora: a ausência dos semicondutores no mercado.
O sumiço do produto, aliás, continua provocando efeitos devastadores na indústria de transportes de vários países. No Brasil, só em março, foram inviabilizadas as atividades de três importantes montadoras multinacionais.
Na última semana, a Hyundai Motors, o grupo Stellantis (dono das marcas Jeep, Fiat, Peugeot e Citroën) e a General Motors (dona da Chevrolet) anunciaram suspensão temporária das operações.
Só nos dois últimos anos, 620 mil carros deixaram de ser fabricados no país. Em 2021, 370 mil; e outros 250 mil no ano passado. A melhora na produção deve começar a ocorrer no segundo semestre de 2023, segundo projeções.
No centro desse movimento de recuo dos fabricantes, há um item primordial na cadeia produtiva dos veículos. Uma peça pequena, sem a qual os automóveis quase não circulam hoje, os tais semicondutores, presentes nos mais diversos microchips eletrônicos.
Já ouviu falar deles? Sabe como funcionam? Onde estão? Quando voltarão a aparecer? Continue por aqui e conheça tudo a respeito do dispositivo que ganhou status de protagonista no chão de fábrica das maiores às menores marcas de veículos, sem exceção.
O que são os semicondutores?
Primeiramente, é necessário entender o termo resistência elétrica. Como o próprio nome sugere, o termo faz referência ao impedimento que certos elementos dão à passagem da corrente de eletricidade. A característica tem a ver com aspectos anatômicos dos materiais.
Tanto os que fazem oposição a essa passagem quanto os que a facilitam têm enorme aplicação em circuitos elétricos. Porém, não só eles. Existem, também, elementos intermediários que conseguem reunir as duas condições numa única superfície: os semicondutores.
Abundantemente usados em equipamentos eletrônicos (e não apenas na produção automotiva), eles são sólidos e capazes de modificar sua condição de isolantes para condutores com facilidade. Isso por conterem uma banda proibida equidistante. O silício e o germânio são as principais matérias de semicondução.
Mas se toda essa explicação não interessou muito, não se preocupe! Mais importante que compreender a teoria sobre o funcionamento do dispositivo é saber onde ele está no seu veículo e como a indústria o utiliza, especialmente a automobilística. Assim, fica mais fácil entender sua colossal relevância no cenário econômico de qualquer montadora.
Onde encontrá-los?
Antes de falar da aplicação dos semicondutores em um segmento específico, vale trazer detalhes sobre seu uso geral. Só assim é possível compreender, de fato, sua envergadura no mercado de veículos e a dependência tecnológica criada a partir dele.
Das marcas de eletrodomésticos aos construtores de mísseis. E, ainda, produtores de TVs, notebooks, smartphones, tablets, videogames e outros que utilizam princípios computacionais: não há quem não tenha sentido os impactos da escassez dessa pecinha.
A falta dela tem influenciado diretamente na elevação de preços dos microchips, dos quais os semicondutores são elementos essenciais, e – consequentemente – dos próprios veículos por eles equipados. Por isso também os carros estão ainda mais caros.
De acordo com dados da Sondagem Conjuntural da Associação Brasileira do Setor Elétrico e Eletrônico (Abinee), mais de 70% das empresas que integram o componente em seus processos fabris relataram obstáculos para importação.
Em alguns modelos, o número de chips usados em diferentes sistemas ultrapassa os 3 mil, presentes no gerenciamento do motor; na conectividade; na direção; e nos controles de poluentes, cada dia mais frequentes. Além disso, compõem centrais multimídia; rádios; câmera de ré; e demais divisões eletrônicas indispensáveis atualmente.
Quando termina a carência?
O maior problema para driblar a ausência do produto no mercado é a superdependência geral no fornecimento. Apesar dos tantos avanços da indústria automotiva, a fabricação dos semicondutores se mantém à parte. Hoje, se concentra nas mãos de três países.
De 87% da produção global, só Taiwan detém 63%. China e Coreia do Sul aparecem bem atrás, com 18% cada. E da assustadora parcela taiwanesa, apenas a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company) possui 54%. Em outras palavras, mais da metade dos componentes de todo o mundo pertencem a uma única empresa.
Segundo institutos que preveem mudanças nos rumos da economia, a normalização da cadeia produtiva global de semicondutores para patamares pré-pandemia só deverá ocorrer no fim deste ano ou em 2024. Até lá, são baixas as expectativas de queda nos preços dos veículos.
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