40 anos de Stock Car

 40 anos de Stock Car

Em 22 de abril de 1979, no Autódromo de Tarumã, a Stock Car realizava sua primeira corrida da história. O mecânico Lourival Pereira dos Santos estava presente na estreia da categoria, que com o tempo virou a competição de automobilismo mais prestigiada do Brasil. Nos boxes dos autódromos e na oficina de sua equipe, ele deixou sua marca pelo trabalho e ficou conhecido como “Losa” pelos companheiros e rivais. Nesses 40 anos nas pistas, o reparador já teve que cuidar dos carros de grandes campeões, além de acompanhar a evolução dos automóveis durante essas quatro décadas. Do potente Opala ao moderno Cruze. Um aprendizado que nunca termina para esse profissional.

“Eu trabalhava com karts. Era do lado do Autódromo de Interlagos. Saía de lá e ouvia o barulho dos Opalas. Fui fazer uma visita nos boxes e gostei. Você sente o cheiro de gasolina, graxa e óleo. Era muita adrenalina. Falei com um rapaz e fui convidado para trabalhar na oficina como ajudante”, relembra Losa sobre seu começo na Stock Car.

Lourival Pereira dos Santos (Losa)

Em todos esses anos, Losa trabalhou com ícones do automobilismo brasileiro, como Paulo Gomes e Alencar Jr. O maior campeão da história da Stock Car teve seu carro acertado pelo mecânico. Ingo Hoffmann venceu 12 vezes o campeonato, e em três foi auxiliado por Lourival. O reparador lembra bem que nem todos os títulos foram fáceis.

“O campeonato de 1994 ficou na minha memória. O Ingo chegou à última corrida como líder da competição, mas também tinha outros seis pilotos na disputa pela taça. Na época eram duas baterias, na primeira nosso carro quebrou. Na segunda, trocamos o motor, mas ele pifou novamente. Entramos nos boxes achando que não era mais possível ser campeão. Porém, os outros seis concorrentes abandonaram a prova e fomos os ganhadores daquele ano, com o carro parado. Uma grande façanha”, conta.

Atualmente, Losa é um dos mecânicos da Shell V-Power TMG Racing, uma das principais equipes do grid da Stock Car. Lá, ele auxilia os pilotos Átila Abreu e Ricardo Zonta. Na sede da TMG Racing, em Americana (SP), ele explica como a categoria cresceu e se profissionalizou desde sua criação em 1979.

“Antes as equipes eram muito pequenas. Não tinham recursos como hoje, faltava patrocínio e apoio. Como mecânico, você tinha que se desdobrar e fazer de tudo: varrer o chão, fazer a fibra, funilaria, mecânica, tudo mesmo, se não ficava caro demais. Hoje é tudo profissional. Cada um tem sua área de atuação específica. Evoluímos e nos moldamos com essas mudanças”, explica Losa. “Hoje, tem a turma que cuida da parte eletrônica, outros da elétrica. Mecânica, pintura e fibra também, tudo dividido”, continua.

Na TMG Racing, onde está desde a fundação em 2003, Losa cuida da logística e também dos adesivos, pintura, fibra e funilaria. “Estamos sempre correndo contra o relógio, mesmo quando não tem nenhum contratempo. O tempo é curto, tem a viagem para a corrida, a volta dela e o intervalo para a próxima. Isso nos dá menos de 15 dias para revisar o carro, fazer a pintura e a funilaria para depois embarcar ele no caminhão”, diz o mecânico sobre o dia a dia na equipe. “Meu foco depende do cronograma. Qual a parte mais atrasada? Eu vejo qual é e me dedico naquilo. No fim, eu me adapto às necessidades do dia a dia”, relata.

E mesmo com todo foco na sede da equipe, Losa ainda perde algumas horas de sono. Seu amor pela profissão e pelo automobilismo é tão grande, que até quando dorme ele pensa sobre o seu trabalho. “Quando eu coloco a cabeça no travesseiro fico pensando no que fiz no dia, se vai dar tempo de terminar uma tarefa. Eu durmo preocupado, mas é porque eu gosto do que faço. Não adianta trabalhar apenas pelo salário. Tem que ter amor e chegar em casa com a sensação de ter cumprido o seu dever”, conta o mecânico.

“Tem que ter muito orgulho da profissão. Qualquer um que trabalha nesse ramo tem que ter isso. Porque se não tiver esse sentimento, essa pessoa não sabe para atuar no ramo. Em nenhum lugar para falar a verdade, independente da função que você exercer”, afirma.

Losa

O amor de Losa pela profissão foi passado ao seu filho, que também faz parte da TMG Racing como mecânico. “Ele trabalha comigo, é meu herdeiro aqui. Tenho um prazer enorme de ter ele do meu lado, junto comigo, na mesma equipe. Ele sempre ia nas corridas e foi tomando gosto pela coisa, até uma hora que precisamos de um garoto para trabalhar aqui. Tudo o que eu aprendi e passei para ele, além disso ele é muito esperto”, diz com orgulho.

Aos 60 anos, Losa não pensa em deixar o automobilismo: “Enquanto eu ficar de pé, vou estar aqui. Não vou me aposentar tão cedo. Vou ser que nem o Zagallo, a turma vai ter que me engolir (risos). Enquanto eu tiver força de vontade, estarei trabalhando”, afirma.

Do Opala aos tempos atuais

Nesses 40 anos de categoria, Losa pegou diversas épocas com diferentes carros. Nos primeiros anos da competição, o Chevrolet Opala era o veículo oficial. O mecânico recorda com carinho daqueles tempos, mas afirma preferir a modernidade atual do trabalho.

“A época do Opala era muito boa, mas a evolução que teve foi sensacional. Eu prefiro hoje porque temos mais recursos para trabalhar. Quando começou a Stock Car, o carro era praticamente um automóvel de rua original, não tinha nem a carenagem, enquanto que hoje em dia é diferente”, explica Losa.

Porém, Losa conta que na época os responsáveis diretos pelos testes do veículo de competição eram os próprios mecânicos. “Antigamente, na época do Opala, quem acertava freio, amaciava motor, era o reparador. Já fiz muito na minha vida. O barulho do motor desse carro é sensacional. Mexia com sua adrenalina. Hoje em dia essa prática é proibida na Stock Car”, relata.

Mecânico de automobilismo X convencional

“A diferença é muito grande. O carro de corrida não aceita erro. Se você cometer algum deslize, você perde a corrida. Tem essa pressão pelo resultado. Estamos sempre correndo contra o relógio, tem a data da prova e não pode deixar tudo para a última hora. A atenção tem que ser redobrada. Os automóveis convencionais são um espelho do Stock Car, só que os de competição tem muito mais detalhes, então tem que ter muito mais cuidado. Na oficina convencional você normalmente troca uma peça, aqui tem que resolver o acerto do veículo e adaptar alguns componentes para melhorar a performance da nossa máquina”, explica.

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