O 4X4 e off-road é sobre sentimento, como numa família
Por ser um país majoritariamente rural, o Brasil possui uma grande frota de veículos 4×4. Ao sair dos grandes centros urbanos, é possível notar que os automóveis mais baixos dão lugar aos off-road. Mas não é preciso viajar para o interior par encontrar com esses carros. Na Zona Sul de São Paulo, a oficina Bad Skull Garage é praticamente um refúgio para os apaixonados por 4×4 dentro da metrópole.
O espaço é dedicado para reparação de veículos 4×4 e de rali, mas também é utilizado para encontros dos amantes da lama, onde eles realizam churrascos e cervejadas. Um dos chefes do lugar é Dennis Pretti, ex-militar, trilheiro e mecânico de veículos customizados e preparados.
Primeiro contato
Dennis possui um longo histórico com os carros 4×4. Já fez expedições na Amazônia, no pantanal e nos terrenos mais inóspitos do Brasil, mas sua história começou longe desses locais. Começa com seu o pai. “De 4 para 5 anos, na época, meu pai estava falido precisava comprar um carro para trabalhar. Ele era representante comercial e não pensava em outro carro que não fosse um antigo. Ele acabou caindo em um ferro velho e comprou um jipe, foi nosso primeiro jipe. Ali que eu comecei, ali foi o meu primeiro contato”, conta Dennis.
Foi com este veículo que ele aprendeu a mexer com motores. “Comecei no mundo 4×4 dessa forma, trabalhando com o meu pai e sendo carro do dia a dia. Ele que levava a gente para a escola, para viagens e para passear, o veículo quebrava muito então eu acabei começando a aprender a mexer em carro dessa forma, assim que eu começo no mundo da oficina”, relembra.
Em 2003, Dennis se alistou no exército e começou a mexer de maneira profissional. Foi ali que, segundo ele, descobriu a existência do quadro de material bélico, dentro das forças armadas. Ali são formados oficiais, sargentos e praças, todos como mecânicos. “Enquanto tinha gente querendo dar tiro, eu não, eu queria ser mecânico”.
Dentro do quartel
Dennis passou sete anos nas forças armadas, como primeiro-tenente do quadro de material bélico. Ali ele encabeçou o projeto de modernizar as oficinas dos quarteis, no 2º B Log (Batalhão Logístico Leve) de Campinas, havia uma necessidade latente de modernizar oficina. “O que a gente gastava de dinheiro terceirizando serviços era muito grande. Então eu criei o centro de manutenção junto com uma equipe”.
Hoje, o centro de manutenção atende toda a linha pesada, como caminhões, viaturas e blindados (tanques de guerra). O local , referência em manutenção de veículos militares, é tão conhecido que outras unidades militares, de todo o Brasil, vão até Campinas para fazer cursos de reparação.
Expedições e aventuras
“Expedições de aventura, como ir para Transamazônica, Transpantaneira ou ir para o Chuí, são experiências aonde você se sente sozinho. Se o carro quebrar no meio nada, depende única e exclusivamente de você e você só se dá conta disso quando esta lá no meio, esqueça sinal de celular, esqueça internet, esqueça comunicação, você tá pelo menos a 300 km da pessoa mais próxima”
Dennis tem diversas histórias de solidariedade que presenciou durante sua vivência, “normalmente em questões ambientais, como enchentes, você sempre vai ver um jipe ajudando, tem gente que pensa que é diversão, mas não é […], eu mesmo já fiz isso diversas vezes”, conta.
Um dos momentos mais memoráveis foi quando ele e um grupo de pessoas com veículos preparados foram resgatar e levar mantimentos para pessoas ilhadas durante a tragédia de Mariana, em 2015. “Não é uma coisa cobrada, a gente não faz isso por obrigação, a gente sente uma necessidade de ajudar o próximo. Então, o que eu vejo de mais diferente no meio 4×4 e off-road é esse contato familiar, esse sentimentalismo que envolve todo o grupo de pessoas que querem estar juntas.”
O mecânico já participou de ralis, como competidor e membro da equipe de apoio mecânico, mas diz que os maiores desafios são as expedições. “Expedições de aventura, como ir para Transamazônica, Transpantaneira ou ir para o Chuí, são experiências aonde você se sente sozinho. Se o carro quebrar no meio nada, depende única e exclusivamente de você e você só se dá conta disso quando esta lá no meio, esqueça sinal de celular, esqueça internet, esqueça comunicação, você tá pelo menos a 300 km da pessoa mais próxima”, alerta.
“A gente foi para a Transamazônica, em 2002, a primeira vez eu acho que foi a mais emblemática. Você está acostumado com cartão de débito, crédito e dinheiro e você chega no lugar e tem uma balança na bancada e as pessoas pagam as coisas com ouro. A moeda local é ouro, eles aceitam o Real, eles aceitam dinheiro, mas o ouro é que manda”, relembra Dennis sobre uma das experiências mais impactantes durante uma de suas muitas expedições.
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