A mulher e o seu poder de invenção na indústria automotiva
Como o olhar feminino contribuiu para o desenvolvimento de ideias por trás das mais diversas funcionalidades do seu carro
Pouco se fala sobre o papel da mulher no processo de evolução do campo automotivo. De certo modo, isso tem um porquê: infelizmente, uma parte da sociedade ainda resiste em enxergar as mulheres em posições de liderança na produção de tecnologia, especialmente quando voltada à fabricação de automóveis.
Por outro lado, houve também, ao longo da história, uma clara privação de direitos a elas, especialmente em relação ao ensino, que impediu por muito tempo que a mulher tivesse acesso à prática de estudo regular como tinha o homem.
Isso por sua vez teve efeito para que a participação feminina na criação de soluções para esta indústria fosse menor, proporcional à quantidade de indivíduos do sexo que podiam receber educação formal.
No entanto, o que quase ninguém sabe é que essa marginalização do gênero, se assim cabe chamar, foi incapaz de conter numa caixinha a criatividade das mulheres. Mesmo suprimidas e cheias de empecilhos culturais, elas alcançaram um papel espetacular no progresso da fabricação dos veículos modernos.
Mas afinal… quem são estas personagens cheias de importância? Se você ficou curioso em saber os feitos que deram à mulher posição de destaque na formação da indústria automotiva, é bom não desgrudar dessa leitura! Conheça, agora, algumas delas.
Helen Blair Bartlett
Nascida em 1901 no Condado de Mercer, na Pensilvânia, Helen Blair Bartlett era geóloga e chegou a posição de membro de importantes órgãos, como a Sociedade Mineralógica dos Estados Unidos, a “American Ceramic Society”, a American Chemical Society e a Associação Americana para o Avanço da Ciência.
Na década de 30, enquanto trabalhava como pesquisadora de materiais cerâmicos como isoladores elétricos, na General Motors, Helen idealizou o isolamento para a vela de ignição, criando um invólucro que continha bem mais resistência que o utilizado na época.
Graças a isso, sua atuação como cientista foi reconhecida como vital, tanto para o projeto do dispositivo de isolamento da vela como para inúmeras outras invenções possibilitadas a partir dessa descoberta.
Margaret A. Wilconx
Quantas vezes você já ligou o aquecimento do seu carro? Talvez poucas se o seu país é o Brasil. Mas para uma parte significativa do mundo, Margaret A. Wilconx fez revolução.
De Chicago, Illinois, e engenheira mecânica de formação, ela desenvolveu no ano de 1893 um aquecedor para o seu próprio veículo, projetando um sistema que canalizava o calor do motor para esquentar a cabine do carro.
Margaret, aliás, é a dona de uma das primeiras patentes concedidas à mulher nos Estados Unidos. Posteriormente, a engenheira patenteou outros produtos dos quais também foi responsável pela invenção. Porém, não foi sempre assim.
No início da carreira, ela era obrigada a inscrever as patentes no nome do marido, pois naquele tempo era ilegal que uma mulher obtivesse seu próprio registro.
Seu invento só ganhou notoriedade em 1917, quando engenheiros começaram a seguir seu projeto. Doze anos mais tarde, alcançou escala industrial ao passar a ser instalado nos veículos da montadora americana Ford.
Florence Lawrence
Hamilton, Canadá. 2 de janeiro de 1886. Nascia a mulher considerada uma das primeiras atrizes do mundo moderno: Florence Lawrence, precursora na era do cinema silencioso. Para o segmento, ela é vista como a estrela cinematográfica “number one”, e se tornou conhecida como “The Biograph Girl”, “The Imp Girl” e “The Girl of a Thousand Faces”.
Agora você deve estar se perguntando o que essa mulher faz nesta lista cheia de cientistas e inventores. Calma, que não é à toa. Se você gosta de um trânsito organizado e bem sinalizado, é preciso olhar para o céu e agradecê-la.
À Florence é atribuída a criação de nada mais nada menos que as setas direcionais dos carros e, ainda, as luzes de frenagem. Sim, amigos, ambas as invenções estão na conta de uma atriz de cinema mudo! Dá para acreditar?
Talvez por isso a estrela das telonas tenha decidido nem registrar as suas criações. Ainda assim, ela colocou o nome na história de duas indústrias importantíssimas. Definitivamente, Florence foi gigante.
Mary Anderson
Sabe aquela chuvona que você pega no meio da estrada e tem tudo para interromper o seu rolê? Pois bem! Se você é daqueles que continua a tocar a viagem por sentir sua visão totalmente segura, é graças a esta senhora: Mary Anderson.
Foi ela a responsável por desenvolver o limpador de para-brisa. Só! Caso pareça pouco, é bom ressaltar que antes dessa invenção os condutores eram obrigados a descer dos bondes para realizar a limpeza de todo o campo de visão dos veículos.
Mary teve essa sacada quando se deslocava à Nova York no inverno. Ela viu um motorista estacionar para retirar a neve do para-brisa, justamente por não conseguir mais dirigir com a cabeça para fora da janela.
Daí, então, surgiu a ideia do limpador, que só foi adaptada a partir de 1922, quando a Cadillac começou a instalá-lo como equipamento padrão. Apesar disso, acredita-se que Mary Anderson nunca tenha lucrado com a iniciativa. Mesmo assim, em 2011, a visionária teve o nome incluso no Hall da Fama dos Inventores. Merecidíssimo!
Katharine Burr Blodgett
A vida desta mulher brilhante foi totalmente dedicada à ciência. Prodígio, Katharine Burr Blodgett foi a primeira mulher a receber o título de Ph.D. em Física na Universidade de Cambridge, no ano de 1926.
Ignorando os costumes da sua geração, nunca teve o interesse de se casar, constituir família e viver em função do lar. Sua vocação era outra: produzir conhecimento através de experimentos químicos.
Foi assim que Katharine firmou contrato de trabalho com a General Eletrics e mergulhou nos estudos até desenvolver revestimentos anti refletores para superfícies envidraçadas.
Em outras palavras, ela conseguiu o sensacional feito de produzir o primeiro vidro integralmente invisível e de baixa reflectância. Isto é, um vidro sem reflexo, o que eliminou a distorção de luz que havia em equipamentos ópticos, incluindo lentes de sol, telescópios, microscópios, câmeras e projetores.
A invenção, no entanto, não parou por aí! Aproveitada pelo setor automobilístico, foi de extrema relevância para aprimorar os materiais em vidro utilizados na fabricação dos carros. O conhecimento trazido por Katharine se mantém vivo nos protocolos de produção até hoje.
Dia Internacional da Mulher
Ao longo dos anos, a presença feminina se tornou essencial em todos os segmentos do mercado – e no automotivo não é diferente, como está bem claro.
Reconhecer a potência dessas mulheres, por meio de suas histórias de criatividade e superação, só prova que o caminho das próximas gerações de meninas pode ser ainda mais promissor e, principalmente, inclusivo.
Valorizamos o papel mais que especial da mulher em nossa indústria e apoiamos a luta por um mercado cada vez mais aberto. A sociedade só ganha. Por isso, feliz dia internacional da mulher a todas!
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